sexta-feira, 12 de março de 2010

O bullying na escola

O bullying está associado ao espaço escola, uma conotação que se deve substancialmente às idades dos agentes que o protagonizam. A sociabilização é acentuada neste espaço, logo é aqui que funciona, como um “laboratório experimental” das atitudes sociais e psicológicas do ser humano. O bullying tem o seu despoletar na escola e a sua passagem para a sociedade, não é mais, do que uma ampliação do espaço físico do mesmo, ou no caso de transferência para outras realidades (locais de trabalho, zonas de encontro entre adultos ou politica), o “transporte” é concretizado pelos mesmos que o realizavam na escola. Em muitos casos, o tipo de atitude que se implementa ou se protagoniza no contexto escolar é transportado para a realidade social, seja em termos de espaço físico, como no crescimento cronológico do indivíduo. Os anos físicos não acompanham, ou não são acompanhados por um crescimento social e/ou psicológico. De acordo com o artigo “Bullying na Escola e na Vida”, de Rosana Nogueira e Kátia Chedid, (n.d.) o conceito de bullying pode também ser aplicado na relação de pais e filhos e entre professor e aluno, citando como exemplo, os adultos que frequentemente ironizam, ofendem, expõe as dificuldades dos outros perante o grupo, excluem, fazem chantagens, colocam apelidos preconceituosos, tendo como intenção mostrar a sua superioridade e poder.
Não podemos definir espaços físicos (dentro e fora da escola) para a preconização do acto, até porque este (espaço físico) é cada vez menos importante na sociedade em que vivemos. No entanto, dedicaremos atenção à escola porque o objectivo principal é a influência de um tipo particular de bullying, o cyberbullying, em alunos do terceiro ciclo do ensino básico obrigatório (Swearer, Espelage, Napolitano, 2009).
Devemos perceber que, como se afirmou anteriormente, o bullying está associado à escola, mas tendo a consciência que esta, desde o espaço físico ao corpo docente, passando pelos auxiliares de educação e encarregados de educação, é condicionada pelo espaço (bairro, cidade, interior ou litoral do país) e sociedade onde se encontra inserida. A chamada cultura de escola é importante para o desenvolvimento, ou não, do bullying. A existência de um corpo docente estável, numa escola com condições físicas aceitáveis e inseridas numa sociedade saudável do ponto de vista social, é muito menos propensa aos processos do bullying, do que as que não cumprem alguns destes requisitos, essencialmente os humanos (Cohen-Posey, K.,1995).

A famosa expressão de Luís de Camões, “Um rei forte faz forte, gente fraca. Um rei fraco faz fraca, gente forte!” (Lusíadas, III, 138 e cf. IV, 17) dirigida a D. Fernando, Rei de Portugal, pode ser transposta para a liderança escolar e todos os seus “súbditos”. Esta liderança tem de ser perspectivada de um ponto de vista global e cultural, e não somente aplicada a Directores Escolares e a cargos de maior responsabilidade, mas a todos que de alguma forma têm de liderar: professores, delegados de turma, directores de turma, auxiliares, etc.


A violência e a agressão no contexto escolar

Dentro do espaço escolar devemos caracterizar dois locais distintos: a sala de aula e os espaços comuns. Cada um destes locais tem associados tipos de bullying distintos. Assim, e dependendo da capacidade do professor de lidar com as situações, temos uma predominância do bullying verbal na sala de aula. A agressão física fica limitada, não só pela presença de um adulto, como também pelas restrições do espaço físico, inibindo o contacto físico, mas aumentando o verbal. Mesmo assim salvaguarda-se, mais uma vez, que depende da postura e capacidade do professor em lidar com a situação, porque são por demais os casos, em que o aluno A, na aula B, têm um comportamento exemplar e na aula C é indisciplinado, (não querendo equiparar indisciplina com bullying). O bullying entre pares dentro da sala de aula tem assim a possibilidade de ser controlado ou observável.
Embora, nestes casos, os actos de bullying verbal se manifestem predominantemente na sala de aula (entre colegas da mesma turma), estes podem acrescentar ou degenerar em actos de bullying físico nas áreas comuns (pátios, campos de jogos e salas de convívio). No exterior, a não presença de adultos ou de quem observe, controle ou mesmo arbitre as situações é evidente. A ausência destes factores cria espaços de descontrole ou controle lasso, que permite o abuso por parte do bully. Nestes espaços de interacção entre todos os alunos da escola, criam-se clivagens, acentuam-se diferenças e unem-se semelhantes, aumentando o risco de confrontos e as oportunidades ao bullying (Rodriguez, 2004).
Dentro da sala de aula também tem lugar uma das variantes do bullying no espaço escolar, a extensão do acto à comunidade. O que anteriormente apenas se dirigia aos pares focou-se agora no professor, originando a situação do “professor queimado”. Um professor que não conseguiu lidar, ou fê-lo de maneira pouco convincente, com uma situação (a primeira ou das primeiras) de indisciplina (fosse este protagonista ou juiz da quezília) dentro da sua aula, em pouco tempo, e se as situações não forem debeladas firmemente, passa a ser alvo constante de bullying por parte dos alunos, nos casos mais graves estendendo-se a toda a comunidade escolar (alunos). Estes professores são muitas vezes indivíduos socialmente inadaptados, frágeis e inseguros tal como as vítimas “normais” do bullying. Nestes casos, até mesmo os alunos que normalmente seriam somente observadores, sentem que podem também fazer parte de uma “guerrilha” contra alguém, pressupostamente mais “forte”.

O bullying, como se percebe, é um acto de agressão entre agressor(s) e vítima(s). Entende-se que este não é limitado a um estilo de agressor, nem a um estereótipo de
Impacto e incidência do cyberbullying nos alunos do terceiro ciclo do ensino básico português 21
vítima. O bullying pode transformar-se, e por vezes acontece, num “jogo” de quem caça quem, onde os papeis de agressor e vítima algumas vezes se invertem.

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